História de Um Andarinho

 

 

“João da Cruz”

Autor: João Neto

 

Cresci vendo João da Cruz morando naquele engenho

Sempre faminto, batendo a cana e torcendo na boca,

Todo enlambuzado com a garapa escorrendo em sua suja roupa,

E o pobre sujeito, sem eira e sem beira... No mundo sofrendo.

 

Não falava com ninguém, só balbuciava consigo mesmo

Inchado, Pálido, deixava transparecer no rosto o sofrimento,

Não ria, não chorava, nem sequer se ouvia um lamento,

Daquele podre sem teto, sem família, que viva ao esmo.

 

Passava o dia na cidade, vasculhando as lixeiras fedidas,

Aquela criatura sofrida, quem nem sabia pedir o que comer,

Mas para o sítio corria antes mesmo do anoitecer,

Para proteger-se do frio, na da fornalha aquecida.

 

No sítio fome não passava, pois mamãe na bondade da sua vida

Sempre levava o prato de comida, para o abandonado João,

Colher não precisava, ele devorava com as próprias mãos,

A comida que mamãe levada, toda refeição por ela oferecida.

 

Depois de cheia a barriga, de cócoras ficava ele resmungando

Parecia se concentrando, para a brincadeira do seu dia a dia,

Matava as moscas que voavam ao seu redor e as comia,

Com uma ingenuidade de criança, os insetos mastigando.

 

Por muitos anos convivi com aquele sofrido João da Cruz

Que morrer no anonimato, sem ninguém saber de onde veio,

Do jeito que Deus trouxe, Deus levou João do nosso meio,

Pois João, de Deus era um Anjo, Um Anjo cheio de luz!